A APAC Partenon

18/12/2019

A primeira vez que adentrei em uma cela de delegacia eu constatei que seria humanamente impossível exigir de um cidadão reduzido a completa falta de dignidade, em um ambiente completamente insalubre, sem iluminação, fedido, sujo, dormindo ao lado da própria urina e fezes, comendo muitas vezes comida azeda, com as mãos, dentro de um saquinho plástico, pudesse desejar sair dali e se transformar em um sujeito melhor, eu só poderia prever que saindo daquele ambiente, seria muito mais fácil para qualquer cidadão desejar vingança, ter sangue no olho.
Como disse o procurador de Justiça, Dr. Gilmar Bortolotto, "o preço que eles (os presos) dão para a vida dos demais (cidadãos não presos), é o preço que damos a vida deles".
A redução da criminalidade que tanto, legitimamente, se exige, perpassa, necessariamente, pela humanização do sistema carcerário como um todo.
A prisão deveria ser o local de cerceamento da liberdade apenas, não da exclusão da dignidade. O que vi foi a pura demonstração da barbárie humana, nada justifica sujeitar um ser humano aquilo que muitas vezes se vê nos presídios comuns. Sem adentrar no mérito, muitos deles, na maioria, não cometeram crimes violentos, como muitos poderiam querer justificar.
Os agentes de segurança fazem o que podem para que o sistema funcione, todavia, muitas vezes falta interesse do Estado, falta recurso, falta estrutura.
Eis que poucos dias antes da inauguração da primeira APAC no Estado, em dezembro de 2018, eu tive a oportunidade de ter o primeiro contato com o método a partir da entrega de um card convidando para uma audiência pública para apresentação da metodologia. Um pouco incrédula, fui para a audiência pública.
Eu, que não acreditava que poderia existir algo tão transformador no Brasil, fiquei extremamente impactada com a apresentação que tive naquela audiência pública.
Me ofereci para colaborar, imediatamente. O método depende diretamente da comunidade para que se concretize.
Ao mesmo tempo em que conheci a idealizadora da implementação em Novo Hamburgo (o que viemos trabalhando para concretização), realizei o curso para atuar junto à APAC PARTENON, em meados de abril de 2019, onde venho desempenhando atividades junto à equipe jurídica.
Ainda que eu seja uma gotinha no meio deste oceano, me enche de orgulho e me deixa extremamente honrada poder fazer parte desta história. Quem ganha sou eu. Somos todos recuperandos, ali dentro aprendo muito, aprendi que nenhum homem é irrecuperável. Ver o brilho no olho daqueles que querem se recuperar, abandonar a criminalidade, buscar uma vida melhor é muito gratificante.
Dentro de uma APAC a execução criminal é aplicada exatamente como a lei determina, priva-se o condenado da liberdade, mas não se-lhe tira a dignidade, para que, no dia em que posto em liberdade, possa compensar a sociedade pelos delitos que cometeu e possa ser acolhido para uma vida digna.
Que as APACs se multipliquem.
"Do amor ninguém foge".

Tel.:51 991627009
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